terça-feira, 29 de março de 2016

"Indefinido"




"O teu cabelo é mau. O teu cabelo é feio. És feia. Não sabes arranjar-te. Não tens um bom cabelo. Não sabes pentear-te. Não tens pentes em casa? Não tens espelhos em casa? Tens o cabelo estragado. Está na frente dos olhos. Ninguém vê a tua cara. Prende o cabelo. Põe-no para trás. Uma carinha tão bonita e esse cabelo a tapar. Que colar tão bonito, que brincos tão bonitos, tira o cabelo da frente para os ver melhor. Mas que grande juba. Já pensaste em corta-lo? Está tão seco. Está sem brilho. Está despenteado. É indefinido. Não sabe o que quer. Acabaste de acordar e saíste assim de casa? O teu cabelo é nojento. Está todo levantado. Está todo no ar. Está arrepiado. Está emaranhado. Está cheio de nós. Pena que não seja liso, pois seria muito mais bonito. Não gosto do teu cabelo. Ninguém vai gostar de ti com esse cabelo"...

Parecem mentira, mas não são. Esta é a realidade de quem tem cabelo ondulado natural, e foi (e continua a ser) a minha realidade. Ás vezes, precisamos de ver escrito para percebermos o quanto é ridículo, o quanto magoa. 
Agora que se prega tanto a aceitação da diferença, a exacerbação do Eu e o respeito pela individualidade, sejam aceitantes. Respeitem as diferenças. Aquilo que dizem deixa marcas muito profundas. Algumas difíceis de ultrapassar. Algumas que eu ainda não ultrapassei. 


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